terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O natal fora-de-lugar

Aproveitando o clima da quadra festiva que há pouco vivemos, achei por bem dar conta sobre o natal que passei por aqui.
Apesar de a cidade ser pequena e “provinciana” (vide o último artigo), paira um halo de natal europeu ou americano (como dos filmes que empesteiam a programação de fim de ano da Rede Globo). Pois bem, paira este clima – creio – principalmente por causa do tempo frio. Ainda que não haja neve, sobretudos e cachecóis compõem uma paisagem que não é comum no Brasil, mormente nessa época do ano. E há ainda aquelas indefectíveis melodias executadas nas praças e ruas de comércio.
Pois eu estava ouvindo rádio dia desses e a apresentadora de um programa de amenidades anunciou que um astrólogo qualquer fizera lá uns cálculos e que a data real do aparecimento da estrela que guiou os magos a Belém estava errada em seis meses, de modo que o natal deveria ser comemorado em junho ou julho, nem sei mais... enfim, um monte de bobagens que só tem lugar nesse tipo de programa à la Ana Maria Braga.
Fato é que, após a apresentação da tese do tal astrólogo, a apresentadora fez comentários do tipo: “quão esquisito seria comemorar o natal em junho, em pleno verão europeu”. Dizia ela ser inimaginável o Pai Natal com aquela roupa toda a entrar por lareiras no calor, consumir comidas pesadas, nozes e frutas secas em junho. Vejam que lucidez óbvia! No entanto parece não ser tão óbvio para muitos no Brasil, pois aí tem lugar, todo ano, esse natal surreal que fez a radialista daqui se encher de sarcástica incredulidade. Há alguns anos escrevi sobre isso no Jornal Observador (o artigo se chamava, salvo engano, “Papai Noel brasileiro”), na esteira de criticar nossa atitude passiva em face da importação de valores e costumes estrangeiros. É lógico que essa festa se tornou quase universal, mas os contornos com o quais se apresenta no terceiro mundo não são os mais adequados à realidade, seja climática ou de cosmovisão. Mesmo ao imaginário infantil se faz imperativo achar uma solução plausível para a ausência de chaminés nas casas, por exemplo. Nas crianças, pois, ainda se salva alguma criatividade e autenticidade.
E é aqui que gostaria de saudar meus amigos pelo sempre brasileiro natal que passamos juntos já desde alguns anos: churrasco e chope (que por aqui se chama “fino” ou “imperial”), sem quaisquer frutas secas ou nozes ou algum palhaço de vermelho e com barbas postiças; embora com essa turma reunida todos sejam meio crianças, talvez daí nossa autenticidade.
Sinto não ter estado aí este ano. Mas para 2009 contem comigo, pois sei que o Brasil ainda tem lugar no sítio do Alecão.

Ponderações de outro mundo




Ainda na esteira do que escrevi outro dia, continuo a relatar algumas impressões e/ou curiosidades que tenho registrado sobre falares e mundividência coimbrã. Insisto que relato apenas o que colhi empiricamente (embora o título sugira algo psicografado), não fosse, poderia fornecer melhores exemplos, bastaria pesquisar na internet. E ressalvo que não me atrevo a estender as impressões como representativas do país, afinal, ainda não me afastei de Coimbra, e ainda que o faça, serão por poucos dias, o que não me autorizaria a emitir juízos sob pena de incorrer em essencialismos.
Bem... no texto Pequeno Glossário de termos inúteis, falei que por vezes me demora para “cair a ficha”, expressão cuja origem, creio, já não é percebida pelas crianças no Brasil. Pois aqui, a maioria dos “orelhões” funcionam simultaneamente com cartão ou “fichas” (na verdade moedas de qualquer valor). O que equivaleria à nossa “Zona Azul”, é totalmente automatizada, como nos filmes americanos: o motorista é que retira o cartão em máquinas espalhadas pelas áreas de estacionamento (seria o fim dos “guardinhas” em Piraju e Ourinhos). Interessante que há também aparelhos para retirar saquinhos para limpar a sujeira que eventualmente seu cão faça durante um passeio na praça.
Outra coisa: por aqui se aboliram as “catracas” (roleta, borboleta, ou o que o valha), seja para entrar no teatro, ônibus e até no metrô! De resto, tem-se o mesmo sistema automatizado que há na maioria das cidades brasileiras, mas sem catracas! É que pra mim, é inimaginável o metrô de São Paulo, por exemplo, sem esse dispositivo, com as pessoas “validando” ordeiramente seus bilhetes e entrando no trem. Só que neste ponto há que ponderar que a grande São Paulo sozinha possui mais habitantes que Portugal inteiro. Observar essas proporções é fundamental para fazer algumas comparações.
A cidade do Porto (2ª maior do país e onde tomei esse metrô sem catraca) tem apenas cerca de 1 milhão de habitantes. Mas não há que se iludir, sejamos justos com o Brasil, também aqui há ônibus urbanos lotados, com gente socada em pé, cocô de cachorro na calçada (a despeito dos já citados saquinhos) e os professores de nível médio estão mobilizados contra o sistema de avaliação e por melhores salários que, aliás, proporcionalmente, são bem inferiores aos do Brasil. Afora o fato de que um recém-licenciado em Letras, por exemplo, só consegue colocação no magistério muito raramente.
E falando ainda de proporções, prof. Laranjeira – meu orientador aqui – insiste em comparar Portugal ao Paraná, ambos apenas com duas cidades que se destacam (Lisboa e Porto – Curitiba e Londrina). Nessa lógica, Coimbra seria uma espécie de Maringá, ainda que menor. Mas faça-se agora justiça com Portugal: isso aqui é um país, e um país europeu com uma vasta história, muito diferente dos 70/80 anos que tem a maioria das cidades paranaenses.
Coimbra é aproximadamente do tamanho de Ourinhos, o que para as proporções daqui é uma cidade “média” (!), embora o prof. Laranjeira insista num certo provincianismo (caipiragem) da cidade. Veja-se apenas um exemplo bobo: há pelo menos 3 MacDonald´s nessa cidade de 130 mil habitantes (!) e 2 shopping centers como aí só encontramos em cidades do porte de Bauru, Campinas... Agora, a par desse aspecto de ostentação (não sei se essa é a melhor palavra) há sim com puxar pelo provincianismo: nos finais de semana temos uma cidade fantasma. Todos se entocam, vão às aldeias vizinhas em visitas familiares ou aos shoppings (no verão por certo vão à praia, que está a cerca de 40 km).
Outro pormenor: assim como em Piraju, onde se joga na rua os panfletos das “notas de falecimento” (em cidades menores anuncia-se nos alto-falantes da igreja), aqui, os necrológios – com direito à foto – são colados nos postes da rua. Mais provinciano que isto, impossível!
Quase já estava me perdendo sem encontrar um fecho adequado para o texto. Acho que estou ficando com sono, já são 11 menos 5 (é assim que se diz aqui, e não “5 pras 11”). Como também se diz 10 e ¼ para “10 e 15”; pra mim faz todo sentido, uma vez que usamos ½ para nos referirmos aos 30 minutos (meio dia e ½), por que não usar o ¼ para os 15?
Pois bem, o fecho: para quem não conhece, vale à pena ler As Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino, só para refletirem o quanto podem fiar-se nas palavras de alguém que se aventura a descrever a cidade.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Educação: canto contra a injustiça




Conforme prometi aos alunos formandos da Turma de Letras 2008 da FAFIL "Carlos Queiroz", deixo aqui o discurso deste Paraninfo ausente:




Prezados Dr. Adalberto
Profa. Adélia
Profa. Dra. Yara
Caros colegas professores e funcionários da FAFIL
Familiares e Amigos dos formandos
Enfim... caríssimos formandos, a quem se dirige de modo particular esta minha fala...
Muito boa noite a todos!...

Em 8 anos na FAFIL “Carlos Queiroz” é a primeira vez que falto a uma cerimônia de formatura, e justamente da 1ª turma que me escolheu para ser paraninfo... mas não tomem isso como uma desfeita. Gostaria muito de estar aí, mas as circunstâncias da vida de professor/pesquisador é que me puseram aqui hoje.
E conforme prometi a vocês há alguns meses estou mandando esta mensagem, que já viajou mais de 7000 quilômetros até aí.
Primeiramente gostaria de agradecer pela deferência que me fazem, de ser um dos homenageados desta noite tão especial pra vocês; significa que construímos alguma coisa de sólido em nossas relações durante esses três anos. Muito obrigado.

* * *

Aqui atrás de mim vocês podem observar parte da cidade de Coimbra. Lá no ponto mais alto, a Universidade, e logo aqui, o rio Mondego, um dos mais importantes de Portugal. E é justamente sobre rios que fala o poema de Alberto Caieiro (heterônimo de Pessoa, como sabem) que gostaria de ler para todos agora:

"O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o Mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele."
Percebem o quanto o poeta está nos dizendo que as coisas aparentemente sem importância – no sentido de não serem grandiosas ou famosas – elas acabam se tornando mais importantes pelo simples fato de serem coisas que nos tocam mais de perto, que dizem mais a nossa realidade e aos nossos sentimentos? (o riozinho da aldeia muito mais importante que o Tejo!!!?)

...

Bem... estou mandando para cada um uma pequena lembrança (pequena mesmo, “lembrancinha”): é um Galo de Barcelos, um símbolo de Portugal. A lenda do galo conta o seguinte:
Um dia um homem que estava a caminho de Santiago de Compostela foi preso na cidade de Barcelos, no norte de Portugal,... foi preso, julgado e condenado a morte por um crime que não havia cometido. No momento do seu enforcamento o condenado viu que o juiz ia comer um galo assado e então disse: “É tão certo que eu sou inocente, que esse galo vai cantar quando me enforcarem”. Todos riram. E na hora que o carrasco já passava a corda pelo pescoço do homem, o galo assado ergueu-se na mesa e cantou... O homem foi solto e seguiu em paz.

...

Mantenham o galinho bem a vista de vocês (na bolsa, na estante da sala...), e quando o virem lembrem-se que ele simboliza um canto, um grito contra a injustiça. E vocês, hoje professores, tem o mesmo poder... a educação, o conhecimento, tem esse poder de cantar, de gritar contra as injustiças, mesmo que seja aí na aldeia de cada um, na escola onde cada um for lecionar, seja ao pé do rio Pardo, do rio Turvo, do “Panema” enfim... Faça a diferença para quem estiver ao alcance do seu canto.

* * *

Recebam todos o meu fraterno abraço.
Boas Festas! Felicidades!

Tenho dito.
Coimbra, Portugal, 28/11/2008

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Chocolate com Pimenta







Conto-vos o que segue a propósito de ter estado no último sábado na “1ª Mostra da Doçaria Conventual de Coimbra”, onde conheci algumas histórias e provei alguns sabores.
É de todos sabido que a tradição culinária portuguesa oferece ao mundo, para além de bacalhoadas, uma infinidade de doces, dos quais o pastelzinho de Belém talvez seja o mais famoso. Mas há dúzias e dúzias de pasteizinhos, de Santa Clara, de Tentúgal, enfim...
Por outro lado, ninguém ignora a religiosidade católica como marca do país, desde a própria lenda de fundação do reino no século XII, quando o próprio Cristo crucificado teria aparecido a Dom Afonso Henriques no campo de batalha de Ourique.
Pois juntemos essas peças: Em 1221, Dona Sancha, neta do 1° rei de Portugal, justamente D. Afonso Henriques, fundou aqui em Coimbra o Mosteiro de Santa Maria de Celas.
A verdade é que nessa época, nem todas as jovens recebidas pelo mosteiro tinham vocação monástica para a clausura (normalmente iam obrigadas pelas famílias quando se não lhe arrumava casamento, ou ainda para afastarem-nas de amores indesejáveis). Enfim, tais “monjas à força” encontravam um refúgio para suas horas de solidão justamente na cozinha do monastério, para onde levavam receitas de família que foram aperfeiçoadas com os anos dando origem a um patrimônio nacional imaterial. Tal aconteceu por todo o país, mas o Mosteiro de Celas, aqui em Coimbra guarda ainda outra característica.
Juntemos então uma terceira peça: a partir do século XVI a cidade é povoada pelos estudantes universitários, que passam a flertar com as monjas, ainda que por entre as grades do claustro. Estabelece-se então uma tradição culinário-cultural que marcaria a vida da cidade até 1834, quando foram extintas as ordens religiosas no país. Essa tradição consistia na realização de saraus – chamados de outeiros – nos quais as religiosas, por entre as grades, ditavam motes e aguardavam as glosas dos estudantes/poetas do outro lado. Se os versos devolvidos agradassem as freiras, estas pagavam aos estudantes com suas iguarias.
Não é difícil imaginar o quanto de galanteios e amores transitava por entre essas grades no vai-e-vem de doces e versos. Para se ter uma idéia, o próprio formato dos doces era, digamos, “sugestivo”; alguns com aspecto um tanto fálicos para povoar cozinhas monásticas.
Mas o doce típico de Coimbra é mesmo o “Manjar Branco”, que pelo seu formato “cônico”, por assim dizer, é também chamado de “maminhas de freira” (algo como as “tetas de nega” brasileiras).
A esse respeito, deixo-vos a singela quadrinha de Alberto Osório de Castro:

“O duplo manjar branco do seu seio,
Biquitos de um dourado de arrufada
Tinham mais mel e mais fino recheio
Que os pastéis de Tentúgal e a queijada”

Com efeito, é com açúcar – mas não apenas com ele – que se adoça a vida.

EM TEMPO: O Manjar Branco é feito a base de farinha de arroz, peito de frango cozido, leite, açúcar e casca de laranja.

sábado, 29 de novembro de 2008

Pequeno Glossário de termos inúteis


Parece que a feição que o Barco no peito tem tomado é mesmo de um Diário de Viagem, local para registro de impressões, a mais das vezes de banalidades. Mas penso que seja bom assim... a sério já tenho uma tese para escrever, faço do blog espaço de catarse. E ademais, agora que começam as férias aí no Brasil, é momento para amenidades.
É lógico que falar de impressões de viagem em pleno século XXI não guarda qualquer novidade que impacte nossas vidas como fizeram os cronistas do quinhentismo, mas por certo guardam algo de curioso. Mesmo a um profissional de Letras, com plena noção da variedade lingüística, às vezes a diferença dos falares causa algum estranhamento. Todos podem encontrar facilmente na internet muitíssimos mais casos do que vou relatar; quem for curioso que o faça. De minha parte, vou ater-me estritamente ao que já presenciei empiricamente neste meu primeiro mês conimbricense (aliás, a começar por esse pomposo adjetivo pátrio).
Claro que todos sabem que ‘autocarro’ é o nosso ‘ônibus’, ‘bicha’ é a ‘fila’ e ‘comboio’ é o ‘trem’ (se Minas fosse aqui, dir-se-ia “Ô comboio bão sô”), mas outro dia tomei um suco “quente” (em temperatura ambiente, que nem é tão quente nesse frio daqui), porque demorou pra cair a ficha de que ‘fresco’ queria dizer ‘gelado’. E também para sacar dinheiro hesitei um pouco: no ‘ecran’ (‘tela’) do caixa eletrônico não aparecia a opção ‘SAQUE’ de jeito nenhum... o botão que eu deveria ‘carregar’ (‘pressionar’) era o de ‘LEVANTAMENTO’.
Vejam então uma listinha que fiz para vocês:

PORTUGAL------BRASIL
Ananás ----------Abacaxi
Autocarro -------Ônibus
Barrar -----------Passar (a margarina)
Camisola--------- Camiseta
Carregar ---------Apertar (um botão)
Chouriço ---------Um embutido, mas sem sangue.
Comboio ---------Trem
Ementa ----------Cardápio
Fiambre--------- Presunto
Frigorífico------- Geladeira
Gelado -----------Sorvete
Golo------------- Gol (o ato de marcar o ponto, no futebol)
Investigador----- Pesquisador
Levantamento--- Saque
Morcela---------- Chouriço
Pai Natal--------- Papai Noel
Pedonal---------- Pedestre
Porta-chaves---- Chaveiro
Prenda----------- Presente
Saco --------------Sacola
Sumo -------------Suco
Talho -------------Açougue
Telemóvel --------Celular

É... como já havia constatado o poeta José Paulo Paes: “Positivamente, as aves que aqui gorjeiam não gorjeiam como lá”.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Da falência das humanidades

Luciana e eu sempre brincamos sobre que futuro escolher para o nosso filho (como se nos fosse dado esse direito): devemos formá-lo para ser uma pessoa consciente, justa, solidária ou – o oposto no nosso gracejo – para que ele tenha dinheiro e seja feliz? Noutros termos: ele deveria ser um humanista ou um tecnocrata?
Também costumamos – ainda brincando – quando somos tomados por certo senso de justiça (que a mais das vezes reflete em prejuízo financeiro para nossos bolsos) pôr a culpa em nossa “maldita formação humanista”. Não que as características de justiça, solidariedade e tolerância sejam prerrogativas dos que tem essa formação, longe disso... Mas é que é forte a impressão de que cada vez mais técnicos/tecnólogos/tecnocratas com formação secundária e visão obtusa, ganham rios de dinheiro – e, por conseguinte são felizes, em meio a nossa sociedade pautada pelo consumo – enquanto os professores, por exemplo, ainda que com anos a mais de estudos, chafurdam em dinheiros mínimos. Mas também quero dizer que a infelicidade que se contrapõe à felicidade dos que tem dinheiro não é só resultante da falta do dito, outrossim da visão de mundo que se pode descortinar com anos suplementares de estudo. Se nos for dada a faculdade de questionar a realidade, então, “adeus felicidade”, ao menos aquela mais inconseqüente, a que faz uso do dinheiro para se sustentar. (“Bem-aventurados os pobres de espírito...”, lembram-se? Acho que é Jesus).
Mas estou descambando para outras vias, levado pelo fluxo do pensamento. O início da conversa era apenas mote para expor um assunto, qual seja o da diminuição da procura pelos cursos de graduação em Letras. Agora mesmo, enquanto escrevo, deve estar se realizando o vestibular na “Faculdade Carlos Queiroz”, onde leciono. Ainda não sei quantos alunos entrarão para o curso de Letras (e tomara mesmo que o número desminta o que vou dizer), mas o que se tem observado nos últimos anos – e não somente nas instituições particulares – é um crescente desinteresse pelo curso e pelas humanidades em geral. E o caso de Portugal então, deixou-me boquiaberto; é ainda mais alarmante. Este ano letivo apenas oito portugueses ingressaram para 35 vagas oferecidas no curso de Letras da Universidade de Coimbra (em que pese toda a tradição, e até certa mítica histórica, de ser aluno da instituição). E apenas um desses oito tinha Letras como primeira opção. Os demais, acaso, acabarão mudando de curso.
Diz que o curso de Química daqui inverteu essa lógica apenas trocando o nome para “Engenharia Bioquímica” ou coisa do tipo. Os jovens não querem ser químicos (e serem associados àquele professor maluco de segundo grau), querem ser “Engenheiros”... Talvez fosse o caso de criarmos cursos de “Engenharia Lingüística” ou algo que o valha, com o direito mesmo dos recém-graduados serem chamados de Doutor, como os engenheiros diversos e os médicos e os bacharéis em Direito.
Também não vou tentar elencar as causas dessa falta de interesse – não cabe aqui – , mas por certo passam por essa falta de status profissional, baixa remuneração, ineficiência das políticas de incentivo à leitura, a própria tendência das economias de mercado que empurram os jovens para carreiras técnicas, enfim...
O que deixo para reflexão – porque sei que a maioria dos que me lêem agora são alunos ou amigos, quase todos ligados a área da educação – o que deixo como questionamento é: E você, o que quer para o futuro? Filhos ricos, felizes, porém autômatos (e sem qualquer apreço pelo autômato ao lado) ou filhos que pensem, e por isso mesmo sofram e, no entanto, como conseqüência, vivam humanamente?

domingo, 16 de novembro de 2008

Só um olá.







Olá amigos, como estão?
Por aqui tudo bem, feitas as já sabidas ressalvas sobre saudades, frio e blá blá blá... Tive uma semana bastante produtiva – creio – de muitas leituras e reflexões. Fui inclusive assistir aulas do Doutorado em Estudos Feministas; muito boas as discussões.
Estou na expectativa da chegada do meu co-orientador português, que está no Brasil (vejam só!) e retorna pra cá na terça, 18, e também no aguardo de qualquer notícia sobre o dinheiro da bolsa, que ainda não veio.
Ah... fui há pouco assistir um “concerto de órgãos” (e não era uma operação de apendicite, rs...). Desculpe o chiste infame, não resisti. Era um daqueles órgãos gigantes de igreja, como o do Fantasma da ópera; muito legal. O evento fez parte do Festival de Música de Coimbra que está a acontecer durante todo este mês.
Enfim... não há grande coisa a dizer hoje, escrevo apenas para dar conta de que este nosso espaço ainda está ativo. Aproveito para deixar algumas fotos que lhes devia, das minhas despedidas daí do Brasil. (Descobri que se clicarmos em cima das fotos elas ampliam; é melhor assim para quem quiser salvá-las).
Abraços.